terça-feira, 27 de abril de 2010

A TV do futuro - promessas e realidades sobre a TV 3D.(por Valdecir Becker)

iTV - Interactive TV
A moda agora definitivamente é 3D. Jogos, filmes, televisão. Essa foi a mensagem passada pelos palestrantes do evento A TV do Futuro, organizado pelo colunista do Estadão Ethevaldo Siqueira, que aconteceu ontem no Centro Britânico Brasileiro. Com palestras abordando desde o funcionamento da tecnologia de telas até modelos de conteúdo estereoscópico, a aposta no 3D permeou todos os debates, beirando a ficção científica em alguns casos (na USP já se estuda a evolução da TV 3D: a TV holográfica!).


Do ponto de vista da indústria, unanimidade. Tanto Philips, quanto LG, apostam pesado na disseminação do 3D. Walter Duran, diretor da Philips, disse ter certeza de que em cinco anos o mercado de TVs tridimensionais será inevitável e predominante. Já Fernanda Summa, da LG, aposta em 2010 como o ano da virada. Segundo ela, neste ano deverão ser vendidos no mundo 2,8 milhões de TVs prontos para 3D; para 2014 a aposta é de 80 milhões. Ainda neste ano a LG pretende lançar cinco modelos 3D ready, acompanhando o lançamento mundial de produtos.

Do ponto de vista dos produtos, a Discovery pretende, em parceria com a Sony e Imax, lançar um canal 24 horas 3D nos EUA em 2011. A Copa da África do Sul terá 25 jogos transmitidos em 3D pela ESPN para o mercado americano. Além disso, Coréia do Sul também terá canais transmitindo os jogos com essa tecnologia.

Apesar desse otimismo, dois problemas foram recorrentes nos debates: o custo de produção e a imaturidade da tecnologia. Fernando Medin, da Discovery, afirmou que o custo de produção 3D é 30 a 40% superior ao HD. Já José Dias, da TV Globo, foi mais longe. Explicou que hoje a emissoras gera pouco conteúdo em HD devido aos custos de produção. Isso não deve mudar nos próximos meses, onde continuaremos a ver muito conteúdo 4X3 na TV digital. Sobre o 3D, Dias acrescentou ainda a necessidade de produção diferenciada, com escala, sustentabilidade e fluxo constante de produção. “Isso é um problema para alta definição e será um problema para conteúdos 3D”, argumentou.

Além disso, Dias explicou que pelas experiências internacionais, principalmente de Hollywood, está sendo descartado a captação normal e a transformação em 3D apenas na pós produção, como aconteceu com o filme Alice, atualmente nas salas de cinema brasileiras. Com isso, são necessários equipamentos de produção mais sofisticados, ainda inexistentes para produção em larga escala. O mesmo vale para equipamentos de sincronismo das duas imagens e de pós-produção, todos ainda limitados na visão de Dias. A Globo foi pioneira em fazer testes no Brasil, mas não tem planos para lançar um canal ou mesmo parte de uma programação em 3D.

Já do ponto de vista tecnológico, a experiência de ver TV 3D é interessante em curtos espaços de tempo. A audiência por mais de duas horas é cansativa, pois exige mais atenção do que usualmente é dedicada ao ato de ver TV. Atualmente apenas a tecnologia ativa, que envia as informações estereoscópicas para os óculos por infravermelho, é viável. A polarização da luz na tela da TV ainda é instável e cara. Tecnologias 3D sem óculos estão totalmente descartadas para o futuro próximo, exceto para demonstrações de alguns segundos em pontos de venda. Ainda não existe tecnologia que faça 3D sem óculos e que possa ser assistido por mais de cinco minutos sem causar desconforto.

E para variar um pouco, já começou a guerra pela padronização tecnológica. Como ainda não há padrão para transmissão 3D no mundo, várias tecnologias são vislumbradas. No evento, José Dias, da TV Globo, defendeu ferrenhamente a tecnologia européia Side by Side, utilizada nos testes da NET, que exige a transmissão de dois fluxos de vídeo para gerar a estereoscopia. Ou seja, para transmitir vídeo 3D HD, é necessário o dobro da banda, hoje em 14 Mbps em média na TV aberta. Essa taxa de transmissão torna o 3D em HD inviável. A saída é codificar os dois fluxos, baixando muito a qualidade de ambos. No 3D isso não compromete a qualidade, mas no caso do receptor não ter 3D e telespectador obtar por ver apenas um fluxo, o direito ou o esquerdo, a imagem fica comprometida.
Por outro lado, Marcelo Zuffo, do LSI, explicou que a USP faz testes há mais de um ano com a tecnologia intra-frame, que não transmite dois fluxos. As informações 3D são transmitidas adicionalmente, sem repetir informações desnecessárias. Assim, o acréscimo da banda fica perto de 30%, o que permite colocar 3D no ar hoje, na TV digital brasileira. Dessa forma, o 3D pode ser tratado como recurso adicional e opcional, como uma tecla SAP do controle remoto. Vários testes dessa tecnologia já foram feitos com a TV Cultura.
E quando poderemos sair do sonho e ver 3D de fato? Para Walter Duran, em casa não tão cedo. Ele explicou que hoje quem quiser ver 3D deve ir ao cinema. Nos próximos anos serão lançados produtos blu ray que levam o 3D para a casa das pessoas. Paralelo a isso, na TV a cabo os canais 3D deverão ser lançados aos poucos. No Brasil nenhuma operadora tem previsão de lançamento de um canal 24 horas 3D. Lembrando que apesar da febre da alta definição, há menos de 20 canais HD no ar no país (desconsiderando os abertos, que mesclam as programações com SD). Resumindo, o discurso do 3D é bonito, com imagens maravilhosas, mas não será tão cedo que ele sairá de fato das salas de cinema.



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